terça-feira, setembro 28, 2010
O Funcionário
Mas estou farto, assim como vocês deveriam estar. Rasgarei estes papéis todos, e com eles farei confeite para jogar no Carnaval. Eles cairão nas cabeças dos ébrios, daqueles que realmente vivem; um turbilhão de confetes que um dia foram palavras pomposas, no Carnaval serão apenas letras soltas, a alegrar os fantasiados, os que pintam o nariz, os realmente verdadeiros. Quebrarei os ponteiros do relógio, esses carrascos não mais me executarão, e os usarei para montar minha máscara do Carnaval. Jogarei bombas no impávido colosso, e colorirei as velhas paredes brancas. Soltarei macacos e cobras venenosas nessas velhas e anacrônicas repartições. Usarei os computadores para comprar litros e mais litros de cachaça pela Internet, e darei para todos os visitantes tomarem ao invés de receberem crachás de visitantes. Assim então, ao final da minha epopéia carnavalesca, hei de vencer o monstro burocrático, e, satisfeito da minha própria vitória, longe das correntes que um dia me prenderam naquelas repartições umas iguais as outras, dançarei bêbado e feliz mil danças uma diferente da outra.
sexta-feira, setembro 10, 2010
Do outro lado de cá (indo sem sair do lugar)
Viajo viagens lisérgicas no redemoinho do meu ser, o porão se transforma a cada dia, se expande num universo multicolorido de solos de guitarra elaboradas numa euforia única, Lucy in the Sky With Diamonds, Everybody Knows this is Nowhere, eles tocam, semi-deuses empoleirados em altares esquecidos pela humanidade, os gritos, os sussurros, as odisséias, as pequenas jornadas diárias, tudo existe ao mesmo tempo, o tempo é um só já me diziam o cancioneiro esquecido de um povo sufocado pela anti-civilização dos homens brancos que bradam palavras sem sentido, palavras desordenadas de ordem e progresso, palavras ditas sem beleza, mas o que eu quero é a beleza, o que só me toca é a beleza, no meu porão tudo é belo, até o simples é belo, o simples diz tudo sobre o amor, a poesia simples do nascer do sol nos afirma diariamente as belezas estampadas na nossa cara, homens tolos não veêm, mas eu não quero ser tolo, quem viaja as viagens que eu viajo não pode ser tolo, tem de saber a frase certa, e sofrer os efeitos colaterais.
Viajo viagens transformáticas no canto mais claro da imensidão do meu ser, onde a noite brilha feito estrela matutina e todos os dias são primaveris, flores dançam como nada de mal pudesse acontecer, dançam a alegria de existir, dançam para espalhar os perfeitos odores, atraem o que não se consegue ver com os olhos, só enxerga quem abre o coração, grandes flores belas e coloridas embelezam o porão/redemoinho/imensidão do meu ser, a beleza me transborda a alma, me encontro, me perco, fico à deriva, sigo um caminho pré-definido, só me bastam as alegrias, basta de tristeza, na minha viagem tudo o que eu quero é amar até o fim, pois enfim, quem haverá de ter tempo para odiar? Quem não viaja e fica em casa, passa a odiar o que é pra ser amado. Viajo sempre, viajo todos os dias, viajo viagens lisérgicas entre campos coloridos, entre cavernas cheias de sons, viajo sem chegar a lugar nenhum, tudo que importa é a jornada. Tudo que eu quero é viajar. See you on the dark side of the moon.
They Live...
terça-feira, janeiro 27, 2009
Corrente
sexta-feira, maio 02, 2008
Minhoquinha
E agora, ela mora ali no canto, e de vez em quando aparece. Me assusto, mas não muito, pois a minhoquinha sempre me mostra você. Lembro aquele dia, quando tudo não era tão branco como agora, e eu podia balançar os braços. Balançava e balançava, e como eu queria balançar agora. Se eu balanço, vão brigar. Briga com a brigada dos homens de branco. Branco que sempre me leva até você. Você e o bolo. Dia de bolo. A certeza de um dia bom, entre vários mais ou menos, e alguns horripilantes. O dia do presente foi bom. Eu lembro da joaninha e vejo o percevejo, e sinto o cheiro do teu perfume, que não é igual ao do percevejo, mas sim tão perfumado e colorido. Cores. Aqui tudo é branco.
O dia do presente teve bolo. Teve bolo e presente e arco e flecha, e alvo, alvo com listra azul vermelha e o centro branco, o centro do alvo era alvo. A minhoquinha não deve gostar de cores. Mas ela vem, e entra na cabeça. E tudo é tão branco, e eu nao posso balançar os braços. Balançar como naquele dia no balanço, o mesmo do presente. Esse dia foi bom. Será que foi o único bom? Não, houve outros com bolos. Eram mesmo bolos? Os dias eram bons, ou ruins? Agora me confundo.
Confundo a parede branca. Tudo branco. Branco e branco, dá mais branco. Os braços presos. A minhoquinha, de que cor é a minhoquinha? Cinza, mas não há cinza agora. A brigada também é branca, os cabelos, alguns são brancos, outro pretos, outros até mesmo loiros, e a minhoquinha. No canto da parede. Calma, a joaninha quer voar. Acho que ela se vai. Ela, o seu vestido, a flecha, seu perfume, o bolo. Você se vai agora. Volta. Por favor, não vai, não quero. Lembro um pouco mais agora.
Tudo branco ao meu redor. As imagens, essas imagens parecem fugir. Viram imagens de lembrança. Volta, joaninha, volta vestido cor de rosa. O dia do presente foi bom. Eu lembrava até pouco tempo que tinha sido bom. Só houve esse dia bom? Os dias agora, todos eles, parecem horripilantes. Até o do presente. A razão quer voltar, enfrentar o branco, as paredes brancas. Ahhh! Os efeitos passam, as lembranças não são mais imagens lívidas. A porta. Tenho que sair. Os braços presos. Na boca o gosto amargo, o amargo da minhoquinha.
Minhoquinha? hã? Não. Agora tudo fica mais claro. A consciência volta. O dia do presente vem com um soco no estômago. O dia que me trouxe até aqui. A flecha voando. Oh sim, voando pra o seu peito, transformando o vestido cor de rosa e branco em um vermelho profundo. E sua cara de terror. Oh Deus. Claro. Fui eu, tão real. Fugir, sim, fugir desse quarto. Todos devem dormir agora. Lógico. Não adianta tentar fugir, a porta se abre e a brigada entra. Três. Três e aquela agulha enorme. Mais uma vez, a agulha entra, aquele metal cinza e frio.
E volta tudo outra vez.
quinta-feira, maio 01, 2008
Minha camiseta dos 15 anos
Ouço as distorções da guitarra
E penso e tento lembrar
Mas é sempre essa dor
Não saber de ti, nem saber de mim
Eu que me perco nesses meandros marginais
De curvas na estrada de asfalto quente
Sob esses céus de nuvens performáticas
Leves e alteradas
Alterado
Eu
Estou
Sem saber de mim, nem saber de ti
Para mim, tudo igual
Por isso me perco nas veredas subconscientes
Do meu cérebro estampado
Na camiseta rock n roll
Preta, só preta
Nada de mim, nem de ti
E tu assim, sempre sem saber de mim
O que sou quem sou
O porquê exatamente
Das paixões com dor
E se perder assim completamente
Sem paixão, só torpor
Torpor e nuvens e caminhos
Labirintos mentais, becos sem saída
Becos perdidos
Na labirintite aguda do meu cerebelo
Ainda sem saber de mim, e nem de ti
Nem outdoors nem pequenos panfletos
Para me dizer pra onde ir
Neste delírio mental
Corvos
Cravos
Crânio
Eu crucificado
Numa camiseta rock n roll
Dos meus 15 anos
Desde então
Sem nunca saber de mim
segunda-feira, março 24, 2008
Apenas mais uma de amor (ou Tanto tempo depois, um copo de uísque e uma memória)
A noite não é de lua cheia, nem nova, é uma lua daquelas, só a metade. E eu. E meu uísque com bastante gelo. E uma memória, uma memória de você, já em algum lugar que nem sei qual é; só sei que esta nunca chegará a você, e provavelmente será queimada quando o sol chegar. Mas basta, tente não ficar tão sentimental, falo comigo mesmo é lógico. Mas você lembra a primeira vez em que beijei seus lábios? Se o uísque aqui não me engana, era uma abafada noite de verão particularmente quente, daquelas em que o clima parece oprimir toda vontade de dançar loucamente em cima de uma mesa de bar, entretanto parece ser propícia a corpos suados e beijos molhados. Então, a noite não era uma ditadora cruel, nem uma anarquista sem sentido, era algo no meio termo, se é que isso existe. Uma noite sem nuvens, mas nem por isso as estrelas se atreviam a aparecer: estavam há muito sufocadas pelo artificialismo caótico urbano de concreto, asfalto, muito a fazer e pouco a dizer. Será que você lembra daquela noite de verão? Eu me pergunto, e nem sei o porquê, tanto tempo depois, eu e meu copo de uísque e essa memória que não foge, gruda, me sacode, arranha, cospe, desaparece um tempo, só pra surgir tanto tempo depois de novo, quando a noite esquenta mais que o normal, e todo o resto da cidade continua sempre igual. Deixe-me evocar aqui então, pra ver se ela se vai de vez: noite quente verão seus lábios convidativos meu suor seu suor e uma música no salão. Caetano, Chico, ou até mesmo Baker, mas esse detalhe parece ter se perdido há muito tempo, esse não me castiga, os sentidos estavam muito mais voltados ao tato, olfato, visão e paladar; não falávamos, não naquela noite, ali bastavam os corpos. Talvez a música houvesse contribuído, é verdade. Mas não é o quadro que dói mais, e aí, já ficou pra trás. Não importa, Baker toca pra mim hoje, e isso basta, por ora pelo menos. Espere um momento.....pronto, um gole no uísque, e é só aumentar a música, pra não pensar em tantas coisas mais, sentar aqui na cadeira novamente, fechar os olhos...mas que diabos isso importa numa carta? Agora já está escrito, e não vou riscar, e se esta chegar até você, nessa altura você estará lembrando o quão displicente eu sou, provavelmente reclamando da minha falta de foco com tudo. Talvez eu apenas esteja sendo pessimista. É essa lua meu bem, é essa lua pela metade! Já não sei o propósito dessas linhas, o papel já está todo molhado mesmo, e eu já nem choro mais por você ter me abandonado no táxi pra nunca mais aparecer. Ou fui eu quem saiu do táxi e deixei você lá? Em todo caso, não nos deixemos atormentar por essas memórias. Por isso meu bem, você nunca lerá esta mal escrita carta fracassada de amor (amor fracassado??). As memórias, desta vez, com o sol, vão com junto com este pedaço velho de papel: tornar-se-ão cinzas...
quinta-feira, fevereiro 21, 2008
Tranqüilidade da Alma
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
Um Homem que Dorme
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
Retomada
Pra o retorno, Blur fazendo duo com Fraçoise Hardy com a música To The End/La Comedie, belíssima: