quinta-feira, maio 31, 2007

Meus queridos ditadores - parte 1

Aqui começa a série Meus Queridos Ditadores, que eu nao tenho a mínima idéia do que seja. Só quero mostrar isso aqui:

Não é o Mao, mas sim Chen Yan, uma chinesa de 51 anos que é sósia do nosso querido ditador chinês.

quarta-feira, maio 30, 2007

I hope tomorrow is like today

Como quero testar colocar vídeos do youtube aqui, vou colocar esse. Trata-se de um vídeo bem feito, com uma boa edição, um tanto comovente até. Captura bem um sentimento de viagem, de deslocamento, e causa um certa melancolia, ou melhor, uma nostalgia de lugares que você visitou, pessoas que você conheceu. A música é belíssima, e se adapta bem às imagens. Vejam e tirem suas próprias conclusões.


terça-feira, maio 29, 2007

Será o mundo um lugar chato?

A depender das feministas, moralistas, religiosos, censores, políticos, etc, a resposta a pergunta acima só pode ser afirmativa. Ora, vejam só, a maior polêmica foi gerada na internet, principalmente em blogs de "feministas", por conta de uma simples estátuazinha, voltada para o público adulto, diga-se de passagem. Adam Hughes, desenhista de belas mulheres, elaborou essa estatua aí embaixo, muito bonita por sinal, e causou polêmica. Eu me pergunto, será falta do que fazer? Continuar dessa maneira, com certeza o mundo se tornará bem chato.

Outra que causou polêmica pelos mesmos motivos foi uma capa, também da Marvel, de um quadrinhos que será lançado em Agosto em terras estadunidenses. Logo abaixo a bela arte , considerada "apelativa" por seus detratores. Sinceramente, não entendo tanta discórdia.
Mas, no fim das contas, o mundo não é chato. Isso é de fácil constatação devido a um estudo feito na Espanha - "Consumo de cerveja aumenta a tolerância ao esforço físico e reduz o estresse que representa fazer exercícios em condições extremas, diz estudo realizado em Granada, Espanha" Eu sempre soube que a cerveja fazia bem, mas agora ta aí um estudo pra comprovar. (se bem que não precisa de comprovação, basta apreciar, com ou sem moderação, olha o liquido dos deuses pra vocês:


Como os poucos frequentadores deste espaço (há algum?) podem ter percebido, retornei depois de uns dois meses parado, por falta de tempo, universidade, monografia, estágio, jogos de poker, essas coisas que me distraíram. Mas, agora, vou tentar colocar um conto ou poema novo toda sexta, e começo por esse que segue no post de baixo. Além dos contos, pretendo colocar outras coisas do meu interesse: música, cinema, literatura, quadrinhos, ou qualquer coisa que seja. Comentários sobre filmes vistos - não sou crítico, e nem pretendo ser, serão apenas comenários despretensiosos, impressões pessoais mesmo, de livros que leio também, o carai a quatro.

Deixa a esculhambação nos levar. E viva Baco.

El Clown

O acordar, essa hora tão frustrante. Os sonhos desvanecem em meio a uma realidade cinzenta, na meia luz matutina do quarto do palhaço com cheiro de álcool. A frustração opressora assombra El Clown (como gosta de ser chamado) na manhã, a hora mais difícil de seu dia. Levanta com a cabeça pesada, xingando tudo e todos, com a vista ainda anuviada do sono, tateando as paredes, com suas luvas de pano ainda em mãos, a pintura ainda no rosto, em roupas coloridas, que ecoam uma alegria fugaz, e sempre o fazem relembrar dos sorrisos pueris, aqueles belos sorrisos, pelos quais anseia incessantemente, em busca da redenção, que nunca chega.

Os sorrisos sempre o perseguem. A irônica relação d’El Clown com os sorrisos poderia doer em corações mais sensíveis, que viessem a conhecê-lo, mas El Clown mal conhece alguém, quanto mais alguém mais sensível. Algumas prostituas que o tempo já desgastou, tanto fisicamente, quanto moralmente. Um ou outro morador de rua, que passa os dias a bater carteiras alheias, de incautos passantes. Ninguém se dói pelo Clown, pelo seus pesadelos noturnos, e desejos diurnos de sorrisos melosos, pequenos sorrisinhos perfeitos, brancos e inocentes. Os sorrisos que todas as noites El Clown se esforça ao máximo para arrancar. As palhaçadas humilhantes. Sempre chega em casa extasiado, mas não adormece com facilidade. E todas as noites seus sonhos desandam em pesadelos terríveis, em que os sorrisinhos pueris se transformam gargalhadas do mais puro escárnio, da mais baixa humilhação, para, logo após, se transformarem em dentes afiados de lobos carniceiros, que arrancam sua carne com mordidas furiosas.

El Clown não consegue fugir. Os sonhos e os pesadelos sempre o alcançam. E a manhã também, sempre tão frustrante, o difícil despertar, em que o peso da vida o quer manter preso a sua cama. El Clown acorda todos os dias, para seu grande desespero. Acorda sempre ansiando os sorrisos que o perseguiram durante o sono. Nessa ânsia, sempre aceita novos trabalhos para animar festinhas infantis. Apesar de tudo, é um palhaço competente, e as crianças o adoram.

Mal consegue chegar até o banheiro. No espelho, o rosto pintado. Tenta tirar a máscara que tanto odeia, mas que precisa para alcançar os risos necessários ao seu desespero. El Clown, apesar de tentar todas as manhãs, nunca consegue tirar a máscara, que ressoa a uma falsa alegria, com um sorriso pintado há tanto tempo que já nem lembra mais. A máscara é seu próprio rosto, que mente para todos, e quer enganar até a ele próprio. A tinta seca em sua pele já se tornou a própria pele. Não existe mais o homem por trás da máscara, apenas El Clown e seu sorriso falso. O homem quer derramar seu pranto, mas El Clown quer apenas dar sua gloriosa cagada matutina.

Seu apartamento é minúsculo, mal cabe outra pessoa. Mas nunca há outra pessoa, só nas segundas, quando divide sua cama com uma puta velha e mal cheirosa. O sexo é um tanto atabalhoado e desconexo. El Clown não nasceu para o sexo, disso ele tem certeza, mas nunca deixa de fazê-lo nas segundas. A companhia não dura até a manhã seguinte, e El Clown acorda sempre só, e o acordar, tão frustrante, tão pesaroso, açoita o palhaço diariamente, assim como os beijos da noite anterior, beijos de açoite.

O espelho o assombra. Ele sempre pensa em despedaçá-lo, mas sempre, no último segundo, não consegue quebrar os reflexos dele próprio, estará sempre preso atrás da máscara, atrás do sorriso vermelho, tão perfeitamente pintado, simétrico, artístico, evocando uma melancolia tão profunda. As crianças, é claro, não percebem esse desespero pungente naquele sorriso de tintas secas, apenas a alegria do momento, a alegria triunfal de festinhas infantis, nas quais os adultos bebem, as crianças correm, suam, pulam, riem, riem, e riem, e o palhaço se regozija, ao menos uma vez ao dia.

O seu dia começa após o expurgo matinal. O desespero pungente do acordar aos poucos vai dando lugar a uma leve tristeza, que vem do âmago do homem que um dia foi, e vai crescendo em pontadas de dor aguda em seu estômago e pulmões. Para El Clown, o homem que quer vir à tona não tem a força necessária para tanto, não tem a força para vencer as tintas de seu rosto. E o subjuga facilmente, como faz todos os dias.

Tirando as segundas, há apenas seu cacto. Após subjugar o homem que luta por trás da máscara – com força cada vez mais minguada – El Clown aprecia seu cacto, uma planta com a qual divide o seu desespero, e sua decrépita solidão. Aprecia, acima de tudo, os espinhos. Deixa-o sob o sol do meio dia, para se deliciar sob a quentura escaldante. Enquanto isso, o palhaço abre uma cerveja, e aprecia os espinhos.

Após o espetáculo dos espinhos, EL Clown desce para a rua, onde já nem causa mais impacto, por ainda estar de máscara, e com roupas coloridas, em meio a uma rua imunda, de prédios pela metade, com os tijolos nus. No bar da esquina, após o almoço, senta num canto qualquer. E bebe. Observa os outros com desdém, porque a essa hora do dia a frustração dos sonhos se esvai em goladas de cerveja, e sobra apenas a sensação de liberdade propiciada pela mascara. Os outros não são livres, pensa o palhaço.

Depois de gastar quase todo o dinheiro que recebe na festa do anterior, a embriaguez doce o alcança, e ele se prepara para mais uma festa, para mais um clímax. Todos os dias dá seu espetáculo em festas diferentes, para crianças diferentes. Na falta de festas, a rua é seu palco. Mas nesses dias, ao chegar em casa, o desespero já se inicia antes de dormir, pois lhe faltaram os sorrisos pueris, os únicos que o acalentam.

O maior espetáculo d’El Clown começou como um dia qualquer. Ao apreciar seu cacto, notou um espinho que havia crescido mais que os demais. Ao invés de abrir uma cerveja, abriu a garrafa de uísque a muito guardada para uma ocasião especial. Tomou-a quase que de um gole só. Bebeu mais ainda no bar. E na festa desta noite, daria seu maior espetáculo, o mais memorável de todos que já deu.

Começou como todos os outros, com as pequenas mágicas. Errava todas, cambaleante, trôpego. Os risos eram mais fortes, os mais potentes que jamais vira. Antes de meia hora de festa, já estava completamente em êxtase. Colocou um cd da Xuxa. Dançava o Ilariê, com as crianças pulando ao seu redor. Era quase um delírio para El Clown. Ele sabia que aquele espinho que havia crescido demais só podia significar um presságio. Completamente embriagado, o palhaço dançava, e pulava, e cantava, e rodopiava.

Ila-ri-la-ri-ê, ô ô ô, no meio dos baixinhos, sem que ninguém visse, chegava a um orgasmo multicolorido, no clímax de sua vida. E, nesse exato momento, enrijecido de prazer secreto, caiu duro no chão, com o sorriso de sua boca maior que o sorriso de sua máscara.

Ila-ri-la-ri-ê, a turma da Xuxa vai dando seu alô. As crianças continuaram, rindo, pulando, cantando, dançando. Iam se lembrar para o resto de suas vidas como a melhor festa de suas infâncias, numa lembrança enevoada pelo tempo, apenas sorrisos, e um palhaço saltitante, um que tropeçou, caiu, e nunca mais se levantou, o que causou risos histéricos, e câimbras de tantas gargalhadas. A morte do palhaço em meio às crianças foi o maior espetáculo d’El Clown, o mais memorável que já fez.