terça-feira, agosto 29, 2006

Corrida Espacial

Uma proveta individualista de totens modernos
Berra ao mundo prazeres eletrônicos em pílulas biônicas,
Torres astronômicas despejam ondas subatômicas
No tráfego de informações de bites comprimidos

O satélite geo-estacionário trafega entre dejetos espaciais
Envia sinais invisíveis aos oráculos televisivos
Diminui as muralhas das distâncias milenares
Ao som de uma valsa em sua eterna dança giratória

Toneladas de óleo queimam para elevar o gigante
Das plataformas terrestres de aço, fios e fogo
Para alcançar o infinito azul do horizonte perdido

E entre o concreto, o asfalto, a terra e a lama
Observamos o foguete em busca do zênite
Na esperança de um novo mundo na distância

sexta-feira, agosto 25, 2006

Cervejada

Nasce a lua, começa a noite, uma loura gelada
A primeira cerveja, já mofando, que refresco
Tomo com gosto, quão deliciosa, que cevada
Eu, minha cerveja, a sós num bar sem adereço

Vem a segunda, ainda mais gelada, gostosa
Emborco o copo garganta adentro, estremeço
Mas que loura, me encanta, é tão fogosa
Não me dá trégua, e eu nunca mais a deixo

A terceira vem, ah, o sabor que ela tem
A tomo com ainda mais prazer, e que prazer
Já a quarta vai descendo, vai descendo
Uma passo pra o banheiro

A quinta vem, o banheiro outra vez
Na volta, a garrafa me encara
O gosto aos poucos se esvai
Já a sexta o garçom traz

A loura deliciosa
Já vai e vem, dominando

Ante


Mira o vaso.... pa.. a parede




A sétxima ou a oitxava????

A noooooo ........................... na......

Quantas.......hããã, ah, a conta

A r u a trrrrreme,
O cãominho pa caxa
To m...
blueeeeeeeeeeeeeeeeeeerrrrrrgh

quinta-feira, agosto 24, 2006

Sejamos Felizes

(escrito em parceria com Au-Au)



Um cobrador e um motorista me fazem companhia no caminho de volta pra casa. Enquanto me sento no último banco do ônibus, observo os gigantes de concreto que passam pela janela, como se fosse um filme, e, numa embriaguez sem ter bebido imagino as vidas como a minha, dos pedestres que se aglomeram como formigas em cada cruzamento. Meu primeiro dia de trabalho foi como esperado: nauseante, monótono e desgastante. As pessoas me pareceram todas iguais, sentadas em suas mesas padronizadas em seus computadores brancos, sem máculas. Terei que fazer companhia diariamente ao meu computador IBM até enveredar no mundo das ilusões... o único mundo verdadeiramente real. Aquele que amo, e desprezo e deturpo. O ônibus continua seu sacolejar, agora mais lotado... Não suporto me envenenar com seres da mesma espécie; todos iguais, todos atarefados, todos cheios de si, e sem idéias perigosas na cabeça. Um minuto a mais nesse ônibus, vomitaria... mas chego a minha parada. Que diferença faria? (sinceramente gostaria de expulsar esse demônio em forma de interrogação do meu traseiro). Meu velho cachorrinho Billy me abraça ao seu jeito desengonçado, verdadeiramente feliz por ter chegado em casa. Num afago desesperado, lhe retribuo o carinho. A loucura deve ter batido em minha porta... agora vejo o sacrifício dos meus pais por novos ângulos de... monotonia. Entro, tiro a roupa e me masturbo pensando na modelo gostosa do outdoor, que nunca vou conhecer. Orgasmo...entro num torpor vazio, sentado na privada. O telefone me lembra que ainda estou vivo. Atendo-o e reconheço a voz disfarçada de mamãe. Digo-lhe que está tudo bem, o que mais poderia dizer? O mesmo de sempre; a mesma conversa. Nada de novo no front. Palavras sem sentido, rasas, de vida curta, que morrem assim que são ditas. Sim, para renascerem no outro dia, e morrerem, deixando apenas o aparelho. Desligo-me na escuridão da sala de estar. Sua voz continua a incendiar a minha mente com aquele tom resignado de despedida, que jurei esquecer a mim mesmo. Mas que já no outro dia, e desde sempre, me lembrarei penosamente. Vou até o sofá calvo que estende docemente seu braço espumoso ao gancho do telefone. Desvio meu olhar e, por algum motivo, começo a chorar catarticamente. Tenho que sair dali, senão enlouqueço de vez. Dou uma mijada e me vou agora pra cozinha desse labirinto claustrofóbico. Meu jantar requentado me traz paz por sua exatidão simples. Resolvo voltar pra sala de estar, e ligo a tevê. A mesma bosta sem cheiro de sempre, as mesmas pessoas... no trabalho, no ônibus, no TELEFONE, na tv, me perseguem incansavelmente... caralho! O que posso querer ver? Nada seria o mais sábio, mas a escuridão me consumirá completamente sem os raios catódicos da tv. Começo a apertar os botões do controle remoto, tentando encontrar algo prazeroso. È inútil, nem um programa sequer sobre golfinhos ou cachorros molhados, apenas pessoas fingindo serem quem não são. O silêncio passa bem próximo da minha janela entreaberta, o mundo poderia acabar nesse momento. Morreria feliz com um último gesto gentil da natureza. Que se foda! Inferno ou Céu, qualquer coisa pode ser mais suave do que isso. E também mais propício à liberdade. Ainda penso na modelo. Se fosse rico, ela seria capaz de morrer por mim? Ou, até mesmo, eu em sua boca? Bem, a brincadeira chega ao seu precoce fim; a projeção de um filme ruim em andamento num canal em má sintonia me teleguia pra cama. Fixo o meu olhar para o teto enquanto as horas deslizam sorrateiramente lá fora... Homens se empurram maquinalmente em busca de um orgulho que os ceifará, e ainda sorrirão pra tolos como eu... Não obstante, o sol surgirá novamente banhado pelo sangue dos imolados (esses frescos) da vida industrializada, na pós-modernidade de torres de metais... trazendo sentimentos paumolescentes para esse quarto vazio de sonhos. Mas é hora de dormir, e acordar para os mesmos computadores, ônibus, pessoas, prédios e outdoors, num ciclo que talvez nunca termine. Sejamos felizes, amém.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Três certezas e um talvez

Talvez eu me perdesse insensatamente
Em partículas homogêneas de núcleos atômicos
E até colhesse
Cogumelos vermelhos
Gigantes
Pequenos

Talvez eu me achasse incansavelmente
Em fileiras heterogêneas em ônibus enfurnados
De gente
Pessoas iguais
Diferentes

Talvez eu me encontrasse perdidamente
Em uma multidão cinzenta acerebrada
Em braços e pernas
E vozes
Gritos
Sussurros

E a certeza que me vem
Estupidamente
Energicamente
Que a gente simplesmente
mente

terça-feira, agosto 22, 2006

Eu sei do que eu gosto (no seu guarda-roupa)...

...e são as.... opa!! post só pra anunciar o blog do grande Bob, não o Marley, nem o Dylan, nem o Esponja, mas Bob o poeteiro e psicólogo das coisas inanimadas, o link tá aí do lado, Hora Neutra da Madrugada, mas vai aqui também http://www.zerohoraneutra.blogspot.com/

Direto de Portugal

Alguns títulos de filmes traduzidos no Brasil são estranhos, mas tem uns em Portugal que são verdadeiras pérolas cômicas, vejam só alguns exemplos (primero o nome em Portugal, depois o daqui e o original):

A Verdadeira História de Jack, O Estripador - Do Inferno (From Hell)

O Bom, O Mau e o Vilão - Três Homens em Conflito (The Good, The Bad and The Ugly)

Danny The Dog, Força Destruidora - Cão de Briga (Danny The Dog)

Um Mau Nunca Vem Só - Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels)

À Boleia Pela Galaxia - Guia do Mochileiro das Galáxias (The Hitchhiker's Guide to the Galaxy)

A Minha Namorada Tem Amnésia - Como Se Fosse a Primeira Vez (50 First Dates)

A Mulher Que Viveu Duas Vezes - Um Corpo Que Cai (Vertigo)

A Vida Não é Um Sonho - Réquiem Para um Sonho (Requiem For a Dream)

Arac Attack, Tarados de Oito Patas - Malditas Aranhas! - (Eight Legged Freaks)

Noivos Sangrentos - Terra de Ninguém (Badlands)

e meu preferido de todos os tempos:
As Aventuras de Jack Burton nas Garras do Mandarim - Aventureiros do Bairro Proibido (Big Trouble in Little China)

domingo, agosto 20, 2006

Eu queria morar em Beverly Hills (nem a pau)

As vezes eu acordo me sentindo um lixo humano, um motherfucker ducaralho. Maldita ressaca estroboscópica, vai se meter no cu de um jumento no interior da porra do sertão, e não atormente minha maculada existência nesse puto mundo de deus. Nesses dias não há verdadeiramente uma escolha, só o arrastar dos pés pela porcaria do apartamento, um olhar convulsivo no espelho quebrado, falta até coragem de fazer a barba, porra, a vida devia ser mais leve, não esse pesar constante, essa tonelada de peso morto sobre a minha cabeça, maldito uísque falsificado. O mundo anda doente, com câncer de próstata e milhões de hemorróidas no cu, um velho moribundo, ressentido e amargo, xingando deus, o diabo, o homem e o que se foda. Esse monstro doente sempre escarra no meu rosto, sempre me lembrando do próprio gosto acre do maldito. Maldito. Não se respeita os velhos valores, quando Baco ainda andava entre nós, oferecendo orgias espetaculares e vinhos até não poder, não, o respeito foi pelo ralo, se falsifica o uísque, uma blasfêmia. O mundo moderno, ou pós-moderno, ou seja lá o que as malditas convenções humanas chamem, esse mundo aos pedaços oferece álcool sem qualidade para seus filhos sedentos. Justiça seja feita, é verdade, há lugares em que nem isso se tem, então, qual a escapatória? faremos a guerra, caralho, isso sim é que é fuga, miolos espalhados na terra e carne queimada. Bem, agora uma cerveja, amiga infalível, e Beverly Hills que se foda.

sexta-feira, agosto 18, 2006

É Cerva Mamãe

Para os amantes da cerveja, como eu, o top 20 do meu amigo Au-Au: http://au-au.blogspot.com/2006/08/top-20-cervejas.html

quarta-feira, agosto 16, 2006

Acróstico

Violáceos pores de sol em estações entre
Idas e vindas de trens pretos e fumacentos
Onde corpos esquálidos disputam um
Lugar imundo para lutar pela sobreviv
Ência agarrados uns aos outros
Numa dança cadavérica descontrolada e
Cruelmente desesperada rumo ao
Início do terror mais grotesco que
Alguém jamais imaginou realizar.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Minha rebelião cósmica de outono

O sol se pôs e nunca mais voltou para anunciar as manhãs doentes de decadência e destruição, para acender poços de petróleo fumegantes, que ardem em fogos azul, amarelo e verde. O sol se escondeu do caos ordenado por foguetes azuis, brancos e vermelhos, por aviões supersônicos a zombar dos frágeis prédios de concreto sob suas asas.
O outono surgiu na escuridão do mundo, levando as últimas folhas verdes para recantos profundos, deixando apenas o cinza e as cinzas de um velho mundo.
No planeta morto, carros esquecem de trafegar, tvs não transmitem as mentiras diárias em doses homeopáticas, elevadores não sabem mais o caminho do céu, escadas desmoronam sobre as cabeças cancerígenas e olhos arregalados, palácios governamentais acendem em grandiosas explosões subatômicas.
Os últimos recursos energéticos dão força aos ônibus espaciais, onde os grandes líderes, os grandes farsantes e os pequenos vendedores ambulantes de produtos de beleza fogem do eterno outono que recaiu sobre o planeta.
O último reduto da humanidade, a expansão espacial, a última chance de uma raça em extinção. No planeta moribundo, apenas a escória, para viver sufocada por gases sulfúricos e letais. Não se ouve o gorjear das aves. No exílio, tudo morto, menos os moribundos soldados em verde e marrom.
No espaço a nova esperança, prontamente decapitada por múltiplas explosões nucleares, que derretem o aço e destroçam a vida dos pretensos conquistadores espaciais.

Adeus grandes líderes fugitivos, queimem no inferno. Escória, bem vinda ao planeta Terra, acomodem-se, não há escapatória.

domingo, agosto 13, 2006

Viver a Vida

A arte e o belo não fazem parte da vida. A arte e o belo são a vida.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Ensaio sobre o P(f)oder

Poder foder, foder poder, uma ode ao que se fode, se posso, por que não foder?
Se poder não é foder, não há foda que possa me parecer tão aprazível
Mas veja, do poder ao foder não há um terço de légua, um régua para medir
A curta distância entre foder podendo, podendo foder o que vier
Que quando vem, podendo, não se deixa de foder, pois se posso, por que não foder?
Por que não? Tanto posso, tanto fodo, daí concluo, o foder corrompe.

quarta-feira, agosto 09, 2006

You say you want a revolution



Escrever sobre a revista em quadrinhos Os Invisíveis é um exercício ao mesmo tempo intrigante, pela complexidade da trama, e fascinante, pelos vários níveis de leitura, e variadas interpretações. Para início de conversa, não é nada simples tentar descrever sobre o que é exatamente a estória: é sobre sociedades secretas, magia, ocultismo, drogas, ultra-violência, opressão, armas, kung-fu, Magika do Caos, aliens, UFOs, o mito da Caverna, o underground, controle governamental, revoluções, guilhotinas, Lord Byron, Percy Shelley e Marquês de Sade, milhões de referências à cultura pop, Beatles, Pink Floyd, Terrence McKeena, behaviorismo, travestis (isso mesmo, um dos personagens principais é um travesti), e, lógico, a eterna dicotomia bem/mal (que na obra adquire um caráter ambíguo).
Com tanta coisa misturada, pode-se crer que facilmente desanda-se ao prolixo, que ao tentar dizer tantas coisas, acaba sem dizer nada, perdendo-se no labirinto de referências e temas em que o título trafega. Mas Grant Morrison consegue juntar tudo isso, de maneira que não pareça simplesmente um desfile de referências: por exemplo, temos na primeira edição um experimento que muito lembra a experiência de “A Laranja Mecânica”, que transforma jovens revoltosos em peões submissos, e essa referência não é apenas algo solto, sem relevância, mas é essencial para o caráter da história, que, entre outras coisas, lida com a liberdade do indivíduo, seus limites, suas conseqüências, etc. Também na primeira edição, o jovem hooligan Dane, em 1995, Liverpool, sentado sozinho na rua, vê John Lennon e Stuart Stutcliffe passando e conversando sobre o porquê deste ultimo querer sair da banda. O que poderia ser uma homenagem sem relevância aos Beatles torna-se algo que serve a estória, e que vai ser bastante utilizado ao longo da obra, que é o fato do tempo ser um só, passado, presente e futuro coexistem.
Ainda no campo das referências, quando Percy Shelley e Lord Byron aparecem como personagens no arco de histórias Arcadia, eles também têm relevante impacto, não tanto para a trama em si, mas para discussão que se propõe na trama com relação a vários aspectos da Revolução Francesa, tratando ora do caráter utópico ora do caráter pragmático da revolução, ora o pessimismo, ora o otimismo.
Ao longo da trama, o autor desenvolve temas variados e complexos, como os motivos que levam uma pessoa a ser um opressor ou um lutador contra a opressão, o uso de máscaras para se proteger (segundo o autor, é a armadura mais forte), a desobediência civil, a corrupção do poder, o papel das cidades no mundo moderno (aqui com ficção, mas nem tanto) etc.
A trama, de maneira bem, beeeeem geral, é a seguinte: existe uma sociedade secreta chamada Os Invisíveis, que luta contra forças que usam os seres humanos para seus propósitos, sem que estes se dêem conta disso (Com certeza, uma das inspirações para Matrix), e a obra mostra uma das células dessa sociedade.
Enfim, o que temos com essa obra não é apenas uma salada de frutas de temas tão diversos quanto complexos. Temos um retrato de uma sociedade moderna, mergulhada num turbilhão de informações, onde se faz parte de um pedaço, mas nem sempre se compreende o todo. Uma sociedade por vezes compreensiva, quase sempre intolerante, e sempre paradoxal.


Para os que quiserem ler essa magnífica obra, a coisa fica feia, porque só foi publicado aqui no Brasil até a edição 16. O jeito é apelar para a Internet, como eu fiz. Quem se interessar, pega o torrent aqui: www.thepiratebay.com, põe pra procurar por The Invisibles, e boa sorte.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Tinta Invisível

O texto que segue abaixo foi copiado da revista em quadrinhos The Invisibles, foi uma resposta dada por Grant Morrison a uma carta na edição 14, com relação a primeira edição da revista, onde um personagem realiza um ritual com LSD e invoca John Lennon. A opinião exposta nela é bem interessante, e acho que vale a pena a leitura, tanto pelo próprio conteúdo dela, como pelo fato de expor que quadrinhos são sim uma forma de arte, que podem gerar discussões produtivas. Sem mais enrolação:


"What I’m most aware of in these anti-drugs letters is a basic lack of understanding about what “drugs” are and what they do. The word “drugs” has been used as a catch-all term for a whole range of psychoactive substances, many of which bear as much relation to one another as do chairs and fish. For instance, LSD and crack cocaine have both been placed in Schedule I of the FDA’s Controlled Substance Act (equivalent to Class A in the UK). The Schedule I classification is reserved for those drugs considered most dangerous and harmful to the individual and society at large. Crack, however, is a stimulant drug that generates a short and powerfully euphoric “rush” effect; it is extremely addictive, produces severe withdrawal symptoms and can cause various physiological problems, including critically high blood pressure and lung and heart damage, LSD, on the other hand, is an hallucinogen, the effects of which normally last for eight to twelve hours and include altered perceptions of time, sensory distortions, increased sensitivity to bodily processes, heightened emotions and suggestibility and a whole range of mood alterations, from euphoric bliss to sheer animal terror, depending on the state of mind of the user. It is non-addictive and cannot be successfully abused – due to a tolerance effect which renders the substance ineffective after three or four days of constant use and produces no adverse physical effects. The worst that can be said of LSD is that some users, taking the drug in threatening surroundings or while depressed, can experience profound panic reactions and feelings of paranoia. Crack and LSD are quite evidently two completely different chemicals with very different effects and consequences, yet both are lumped together under the pejorative heading of “drugs”, in such a way that a great many people who see “drugs” in negative light have simply no idea of the vast gulf of differences that exist between one substance and another.

Now consider the case of refined sugar, which is a stimulant drug with the characteristic “rush”, is highly addictive, produces withdrawal symptoms and has destructive effects on the body. Sugar abuse and addiction is more widespread in the Western world than heroin abuse. Most of us are, in fact, hopeless sugar addicts but sugar is perfectly legal and so widespread that most people find it almost impossible to countenance the notion that their abuse of this substance makes them as much a drug addict as any hollow-eyed junkie in Times Square (who is only hollow-eyed and sick because he/she can’t afford a regular supply of pure heroin). So while I have no desire to lead impressionable readers into a cesspit of moral and physical decay by advocating any kind of drug use, I think it’s important to make oneself aware of what “drugs” are and how society attempts to control our perceptions of what is a “good” drug, what is a “bad” drug, and what is never spoken of as a drug at all. I think it’s important to make oneself aware of the misinformation, evasions, distortions, and downright lies that fuel the so-called “War on Drugs”. (Which is not, as Oliver Steinberg pointed out in Pissing Away the American Dream – edited by David Rees – a war on drugs but a war on people. And if our governments are really as concerned as they claim to be about the human suffering and the miseries engendered by drug abuse, why have they not mounted a similar “War on Cars” offensive? Automobiles kill and injure more people every week than all drugs put together could ever hope to do in a month or even a year. Could it be simply that cars are tolerated because they serve the status quo while many drugs not? Whatever the reason, it clearly has nothing at all to do with concern for human safety and health, in spite of government platitudes.)

Which brief background material brings me tortuously to main thrust of your argument, Pete. You suggest that creative people using drugs and “cheating” and compare them to athletes taking steroids or to cars running on nitrous oxide. I would venture to suggest that an auto that runs on nitrous oxide is still an auto if it gets you to work in the morning and go on to say that an athlete in competition is being tested for his physical accomplishment against other athletes, and if the ground rules of the test prohibit the use of performance-enhancing drugs, then the athlete who uses steroids, for instance, is quite clearly in breach of agreement. A piece of art, however, must stand on its own as either a successful piece of art or an unsuccessful one. In my opinion, it doesn’t matter whether John Lennon was peaking on LSD or completely straight when he conceived, wrote or recorded “Strawberry Fields Forever”. It’s still a great song. In my opinion, Naked Lunch is a great book, and whether it was written on heroin or not doesn’t affect my response to the work. If Da Vinci came up with the idea for the Mona Lisa while he was drunk, it scarcely matters five hundred years later. What remains is the work itself and its ability to elicit a response in the viewer or listener. Which is to say that I believe a piece of art must be judged on its own merits. Am I making sense?”
Grant Morrison

quinta-feira, agosto 03, 2006

Divagações sob um sol avermelhado


Num deserto distante, dois homens contemplam as gigantescas dunas que não levam a lugar nenhum, sentados debaixo de um guarda sol minúsculo, observam dois escorpiões brigarem por um pedaço de arroz, e reclamam que a cerveja ferveu sob o sol escaldante. Transacionam um escaravelho mumificado, a morte fotografada por antigos, e repassam as tradições de uma floresta morta a meio século, na radioatividade do mundo moderno.

Do outro lado do mar, longe do deserto, o Divino Marquês entra na sua própria criação, observando, durante 120 dias, um banqueiro, um juiz, um padre e um duque dominarem um castelo cheio de jovens garotas virgens, prostitutas, velhas sebosas, jovens garotos angelicais, praticando atos de sodomia, testando os limites do prazer humano, passando pelos desejos simples, complexos, criminosos e por fim homicidas. 120 dias de sodomia. Não o suficiente, quanto mais fundo se vai, mais fundo se quer ir, e, no último dia, chamaram o general para praticar o verdadeiro horror, apertar o botão e lançar cogumelos atômicos de cima de um trono de ouro e diamantes.

A pequena cidade se apavora ao som dos aviões, menos uma garota, que come terra ao som de Mozart, contemplando os porcos se banharem na lama, sentido calores incompreensíveis pelo enorme garanhão marrom. No horizonte, cogumelos atômicos, na lama, os porcos observados pela garota comedora de terra e domesticadora de baratas planejam a próxima refeição.

45 cogumelos devastam os mares, as montanhas e os castelos de tempos imemoriais. A garota vomita a terra, dorme eternamente com os porcos. O homem moribundo, cuja mulher dormia com todos na cidade, se levanta, pega a derradeira cerveja, e corre nu em campos de futebol vazios e em plantações de banana dominadas pela peste.

Os dois homens no meio do deserto, observando o nada ao redor, vêem o cataclisma atômico formar tempestades de areia, camelos voadores e beduínos explosivos. No fim de tudo, um sorriso sarcástico trespassa seus rostos. Podem enfim voltar ao Olimpo.