quarta-feira, agosto 09, 2006

You say you want a revolution



Escrever sobre a revista em quadrinhos Os Invisíveis é um exercício ao mesmo tempo intrigante, pela complexidade da trama, e fascinante, pelos vários níveis de leitura, e variadas interpretações. Para início de conversa, não é nada simples tentar descrever sobre o que é exatamente a estória: é sobre sociedades secretas, magia, ocultismo, drogas, ultra-violência, opressão, armas, kung-fu, Magika do Caos, aliens, UFOs, o mito da Caverna, o underground, controle governamental, revoluções, guilhotinas, Lord Byron, Percy Shelley e Marquês de Sade, milhões de referências à cultura pop, Beatles, Pink Floyd, Terrence McKeena, behaviorismo, travestis (isso mesmo, um dos personagens principais é um travesti), e, lógico, a eterna dicotomia bem/mal (que na obra adquire um caráter ambíguo).
Com tanta coisa misturada, pode-se crer que facilmente desanda-se ao prolixo, que ao tentar dizer tantas coisas, acaba sem dizer nada, perdendo-se no labirinto de referências e temas em que o título trafega. Mas Grant Morrison consegue juntar tudo isso, de maneira que não pareça simplesmente um desfile de referências: por exemplo, temos na primeira edição um experimento que muito lembra a experiência de “A Laranja Mecânica”, que transforma jovens revoltosos em peões submissos, e essa referência não é apenas algo solto, sem relevância, mas é essencial para o caráter da história, que, entre outras coisas, lida com a liberdade do indivíduo, seus limites, suas conseqüências, etc. Também na primeira edição, o jovem hooligan Dane, em 1995, Liverpool, sentado sozinho na rua, vê John Lennon e Stuart Stutcliffe passando e conversando sobre o porquê deste ultimo querer sair da banda. O que poderia ser uma homenagem sem relevância aos Beatles torna-se algo que serve a estória, e que vai ser bastante utilizado ao longo da obra, que é o fato do tempo ser um só, passado, presente e futuro coexistem.
Ainda no campo das referências, quando Percy Shelley e Lord Byron aparecem como personagens no arco de histórias Arcadia, eles também têm relevante impacto, não tanto para a trama em si, mas para discussão que se propõe na trama com relação a vários aspectos da Revolução Francesa, tratando ora do caráter utópico ora do caráter pragmático da revolução, ora o pessimismo, ora o otimismo.
Ao longo da trama, o autor desenvolve temas variados e complexos, como os motivos que levam uma pessoa a ser um opressor ou um lutador contra a opressão, o uso de máscaras para se proteger (segundo o autor, é a armadura mais forte), a desobediência civil, a corrupção do poder, o papel das cidades no mundo moderno (aqui com ficção, mas nem tanto) etc.
A trama, de maneira bem, beeeeem geral, é a seguinte: existe uma sociedade secreta chamada Os Invisíveis, que luta contra forças que usam os seres humanos para seus propósitos, sem que estes se dêem conta disso (Com certeza, uma das inspirações para Matrix), e a obra mostra uma das células dessa sociedade.
Enfim, o que temos com essa obra não é apenas uma salada de frutas de temas tão diversos quanto complexos. Temos um retrato de uma sociedade moderna, mergulhada num turbilhão de informações, onde se faz parte de um pedaço, mas nem sempre se compreende o todo. Uma sociedade por vezes compreensiva, quase sempre intolerante, e sempre paradoxal.


Para os que quiserem ler essa magnífica obra, a coisa fica feia, porque só foi publicado aqui no Brasil até a edição 16. O jeito é apelar para a Internet, como eu fiz. Quem se interessar, pega o torrent aqui: www.thepiratebay.com, põe pra procurar por The Invisibles, e boa sorte.

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