Viajo viagens lisérgicas e orgasmáticas no porão do meu ser, lá dentro onde o mundo parece flutuar quase todo dia, quase sempre, só às vezes cai aqui na palma da mão, depois flutua pra longe, juntinho com meus pensamentos, imagens de eras vindouras e eras passadas, e outras que nem existiram, mas estão cá dentro, serpenteado em mil serpentinas, real como os sonhos, às vezes fugidios como a realidade, sempre com cores descoloridas de tanto tempo ao sol, cores que já foram cores e cores que não têm nome porque ninguém nunca as nomeou e porque falta palavras, e as palavras de eras inexistentes são dançarinas experientes que se enroscam em pares, trios, quartetos, quintetos, sextetos, até onde alcança o infinito do dizer, em orgias múltiplas em torres altas, tal qual Babel, e sobem e descem, formam poemas de amor, poesias multiformes sobre a lua, o sol, o mar, prosas sobre a beleza ou o grotesco da vida, sapateiam sapateados sapateantes em sapatos gastos, sapatos de pena, canetas de tinta que descrevem os saltos e percalços das letras que se juntam no mundo das Idéias e que vêm até aqui dizer algo que parecia tão importante hoje, mas amanhã de manhã já não passa de uma memória ruim, mundos distantes, mundos tão pertos, cidades de bactérias em cocôs de cachorro, viagens lisérgicas no porão do meu ser, onde vou todo dia lembrar dessas eras inexistentes, soprar vida nas esquinas empoeiradas, quem sabe me perder, quem sabe me achar.
Viajo viagens lisérgicas no redemoinho do meu ser, o porão se transforma a cada dia, se expande num universo multicolorido de solos de guitarra elaboradas numa euforia única, Lucy in the Sky With Diamonds, Everybody Knows this is Nowhere, eles tocam, semi-deuses empoleirados em altares esquecidos pela humanidade, os gritos, os sussurros, as odisséias, as pequenas jornadas diárias, tudo existe ao mesmo tempo, o tempo é um só já me diziam o cancioneiro esquecido de um povo sufocado pela anti-civilização dos homens brancos que bradam palavras sem sentido, palavras desordenadas de ordem e progresso, palavras ditas sem beleza, mas o que eu quero é a beleza, o que só me toca é a beleza, no meu porão tudo é belo, até o simples é belo, o simples diz tudo sobre o amor, a poesia simples do nascer do sol nos afirma diariamente as belezas estampadas na nossa cara, homens tolos não veêm, mas eu não quero ser tolo, quem viaja as viagens que eu viajo não pode ser tolo, tem de saber a frase certa, e sofrer os efeitos colaterais.
Viajo viagens transformáticas no canto mais claro da imensidão do meu ser, onde a noite brilha feito estrela matutina e todos os dias são primaveris, flores dançam como nada de mal pudesse acontecer, dançam a alegria de existir, dançam para espalhar os perfeitos odores, atraem o que não se consegue ver com os olhos, só enxerga quem abre o coração, grandes flores belas e coloridas embelezam o porão/redemoinho/imensidão do meu ser, a beleza me transborda a alma, me encontro, me perco, fico à deriva, sigo um caminho pré-definido, só me bastam as alegrias, basta de tristeza, na minha viagem tudo o que eu quero é amar até o fim, pois enfim, quem haverá de ter tempo para odiar? Quem não viaja e fica em casa, passa a odiar o que é pra ser amado. Viajo sempre, viajo todos os dias, viajo viagens lisérgicas entre campos coloridos, entre cavernas cheias de sons, viajo sem chegar a lugar nenhum, tudo que importa é a jornada. Tudo que eu quero é viajar. See you on the dark side of the moon.
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3 comentários:
Eu chupo cu nas madrugadas, e você?
É impossível chegar aqui e não sair satisfeito com o que se veio à procura! Bravo, sempre bravo!
Obrigado pelas palavras meu caro, segunda tem conto novo, um conto escrito em 2008 mas que nunca postei aqui.
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