Chame-me de louco
Encha meu copo
Acenda meu cigarro
E não me deixe andar só por ruas
Que sempre terminam em lugar algum
De um lugar qualquer
Um lugar comum
Chame-me de louco
Guie-me por avenidas lotadas
De pessoas que não vão, não vêm
Permanecem inertes
No torpor diário dos carburadores
De vozes tresloucadas
Que nada dizem
Chame-me de louco
Neste precipício em que estou
Alheio ao tempo
Ao temporal fustigante
Às suas investidas cruéis
De me fazer curvar
Diante as curvas da cidade
Chame-me de louco
Acenda mais um cigarro
Encha novamente meu copo
Senta ao meu lado
Bata-me com as mãos nuas
Faça-me sangrar
Como o louco que eu sou
Chame-me de louco
E deixe-me com meus vícios
Meus pensamentos
Em praças lotadas de esquecimento
De mentes
Que amaldiçoam o sol, o chão, o concreto, o asfalto
Sufocadas em nuvens cinzentas
Louco?
Estes que passam, nada vêem
Estes que voltam, nada viram
Estes que permanecem, são cegos
Lutar pra quê?
Encha meu copo
Acenda meu cigarro
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