segunda-feira, março 24, 2008

Apenas mais uma de amor (ou Tanto tempo depois, um copo de uísque e uma memória)

A noite não é de lua cheia, nem nova, é uma lua daquelas, só a metade. E eu. E meu uísque com bastante gelo. E uma memória, uma memória de você, já em algum lugar que nem sei qual é; só sei que esta nunca chegará a você, e provavelmente será queimada quando o sol chegar. Mas basta, tente não ficar tão sentimental, falo comigo mesmo é lógico. Mas você lembra a primeira vez em que beijei seus lábios? Se o uísque aqui não me engana, era uma abafada noite de verão particularmente quente, daquelas em que o clima parece oprimir toda vontade de dançar loucamente em cima de uma mesa de bar, entretanto parece ser propícia a corpos suados e beijos molhados. Então, a noite não era uma ditadora cruel, nem uma anarquista sem sentido, era algo no meio termo, se é que isso existe. Uma noite sem nuvens, mas nem por isso as estrelas se atreviam a aparecer: estavam há muito sufocadas pelo artificialismo caótico urbano de concreto, asfalto, muito a fazer e pouco a dizer. Será que você lembra daquela noite de verão? Eu me pergunto, e nem sei o porquê, tanto tempo depois, eu e meu copo de uísque e essa memória que não foge, gruda, me sacode, arranha, cospe, desaparece um tempo, só pra surgir tanto tempo depois de novo, quando a noite esquenta mais que o normal, e todo o resto da cidade continua sempre igual. Deixe-me evocar aqui então, pra ver se ela se vai de vez: noite quente verão seus lábios convidativos meu suor seu suor e uma música no salão. Caetano, Chico, ou até mesmo Baker, mas esse detalhe parece ter se perdido há muito tempo, esse não me castiga, os sentidos estavam muito mais voltados ao tato, olfato, visão e paladar; não falávamos, não naquela noite, ali bastavam os corpos. Talvez a música houvesse contribuído, é verdade. Mas não é o quadro que dói mais, e aí, já ficou pra trás. Não importa, Baker toca pra mim hoje, e isso basta, por ora pelo menos. Espere um momento.....pronto, um gole no uísque, e é só aumentar a música, pra não pensar em tantas coisas mais, sentar aqui na cadeira novamente, fechar os olhos...mas que diabos isso importa numa carta? Agora já está escrito, e não vou riscar, e se esta chegar até você, nessa altura você estará lembrando o quão displicente eu sou, provavelmente reclamando da minha falta de foco com tudo. Talvez eu apenas esteja sendo pessimista. É essa lua meu bem, é essa lua pela metade! Já não sei o propósito dessas linhas, o papel já está todo molhado mesmo, e eu já nem choro mais por você ter me abandonado no táxi pra nunca mais aparecer. Ou fui eu quem saiu do táxi e deixei você lá? Em todo caso, não nos deixemos atormentar por essas memórias. Por isso meu bem, você nunca lerá esta mal escrita carta fracassada de amor (amor fracassado??). As memórias, desta vez, com o sol, vão com junto com este pedaço velho de papel: tornar-se-ão cinzas...

Um comentário:

Unknown disse...

Putzz... Da uma olhada nessa crônica, e sente a semelhança: http://opiario.livejournal.com/29560.html